Antes da Meia-Noite (2013)

Suíno Artístico
4 min readSep 3, 2021

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Antes da Meia-Noite é um filme de drama romântico lançado em 2013, e dirigido por Richard Linklater (Boyhood: Da Infância à Juventude) que também co-escreveu ele junto dos dois protagonistas do longa, Ethan Hawke (Sociedade dos Poetas Mortos) e Julie Delpy (2 Dias em Paris).

Após nove anos depois de seu reencontro, Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Juline Delpy) se casaram e tiveram duas filhas. Atualmente, de férias na Grécia, o casal tenta emendar todos os conflitos que tiveram durante esses anos.

Antes de qualquer coisa, recomendo fortemente assistir os filmes Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol, para que não acabe boiando ao ler a resenha e ver o filme. Há algumas semanas atrás, recomendei em meu Instagram o primeiro longa da trilogia do Antes. Desde então, ao lado de duas amigas próximas, comecei a revê-los, seja por saudades deles ou para confirmar se eles nunca foram realmente do meu tipo. O diretor e escritor de todos os três longas, Richard Linklater, é um homem diferente de seus contemporâneos. Suas obras tendem a não ser conhecidas por uma história chocante e/ou energética, inclusive tendo quase que um foco mínimo no enredo, e sim pelas interações dos personagens, que possuem diálogos existencialistas quase que improvisionais. Isso costuma ser uma faca de dois gumes, onde eu acabo completamente envolvido em todo o longa, como em Waking Life, ou fico entediado só de pensar à respeito, no caso o Boyhood.

Mas, apesar de minha relação complicada com o diretor, devo dizer que seu estilo e execução casam exatamente com a proposta dessa trilogia. Os diálogos são extremamente naturais, ao ponto de constantemente ocorrem “imperfeições” nele, com interrupções, tangentes e outras coisas que não aparecem roteiros típicos. Por mais que pareça irritante, ou até mesmo desnecessário, isso acaba me prendendo bastante. Não sinto nenhuma artificialidade que o cinema geralmente coloca em seus roteiros, e acaba fazendo com que eu não veja o casal como personagens, e sim pessoas, algo muito difícil de se criar até mesmo nos filmes mais realistas. A química entre os dois é outro detalhe importantíssimo para passar essa ideia, mas, diferente dos outros filmes onde há uma conversa energética e animada, aqui ela parece muito mais retraída. Brigas e desavenças que se acontecessem antes, seriam por pouquíssimo tempo, agora parecem ser o foco. O casal ainda tem uma relação natural, mas ela parece que foi desgastada ao longo dos anos. Acredito ser impossível não ficar deprimido em relação a isso do filme, pois a química quase que sobrenatural entre os dois, acaba se tornando apenas outra relação que vemos constantemente no nosso dia-a-dia.

A linguagem corporal dos atores também ajuda a transmitir o que está sentindo e pensando a respeito da situação.

Mas não há apenas o diálogo para mostrar isso, com os outros aspectos cinematográficos reforçando essa ideia de desconexão. O andar dos personagens, algo que sempre foi mostrado junto nos filmes anteriores, agora está dessincronizado, a câmera, que constantemente mostrava os cenários e pontos turísticos que o casal estava olhando, demora um pouquinho mais para revelar o que cada pessoa está falando a respeito, e as horas em que um tenta se aproximar, seja fisicamente ou emocionalmente, o outro se afasta. Talvez o que mais machuca, seja ver que as cenas onde ambos estão mais felizes é na companhia de outras pessoas. E há também lembretes aos dois, do que eles perderam, e que poderia ser melhor, sendo representado pelos casais da cena da mesa de jantar. Mas, apesar dessa ilusão da intimidade que temos com Celine e Jesse, você é apenas o observante. A mosca na parede que vê o momento complicado em que os dois estão em suas vidas. O filme nunca toma um lado da briga, fazendo com que a interpretação de cada um encha as lacunas não apresentadas no filme. Por conta disso, eu, assim como aconteceria com a maioria, acaba se vendo no casal, pois certamente já estivemos em conflitos e relações que são retratadas de maneira espetacular no filme.

Acredito que a única crítica a ser feita, mesmo que seja algo bem superficial e insignificante, é que não este não é um filme para todo mundo. Se você é alguém que olha para uma cena de diálogo e pensa: “Nossa, que faladeira chata, nada tá acontecendo”, obviamente você não irá gostar do que Linklater tem para apresentar aqui. Um outro fator é a questão visual e sonora. Há certamente alguns momentos marcantes que envolvem esses dois elementtos, mas muito raramente terá algo para prender sua atenção nesse âmbito. Funciona para o filme e para a sua proposta, claro, mas certamente poderá atrapalhar a maioria das pessoas com tendências mais hiperativas de uma audiência. Antes da Meia-Noite também não é um filme que funciona perfeitamente sozinho. Você consegue entender o contexto claro, e os momentos de tensão continuam impactantes, mas o vínculo ao casal que tu consegue dos outros dois longas, aumentam muito mais o tapa na cara que tu recebe nos conflitos que ocorrem nesse filme, sendo até difícil para eu imaginar como seria recebido. Claro, são problemas mínimos e que não afetaram de forma alguma o meu aproveitamento do longa, mas acredito ser importante avisar, principalmente aos que estão entrando às cegas.

Antes da Meia-Noite é um filme incrível que, não apenas fecha a sua trilogia com maestria, mas também subverte as expectativas do gênero, por conta de suas performances e dinâmicas mais realista.

Classificação: 9/10

Semana que vem estarei fazendo Review do álbum Zuckerzeit do Cluster. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!

Oinc Oinc

-O Porco

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Written by Suíno Artístico

Olá estranho. Neste canto infortúnio da internet, há um porco fazendo resenhas de obras artísticas. Se isso não te estranha, bem-vindo e boa sorte

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