It’s Such A Beautiful Day (2012)
It’s Such A Beautiful Day é um filme experimental de comédia dramática lançado em 2012. Ele é dirigido, produzido, escrito e estrelado por Don Hertzfeldt.
Sem sinopse dessa vez porque é um filme que o melhor jeito experienciá-lo, é indo completamente cego. Indico fortemente que feche esse review e volte nele já quando tiver visto o filme. Garanto a ti que não arrependeras. Se já viu o filme ou tá pouco se fodendo, vamos começar.
Há certas obras artísticas que sempre voltamos a elas. Aquele álbum que sempre puxa o seu astral para cima, uma pintura que te leva ao seu mais profundo subconsciente toda vez que a vê ou um filme que sempre traz as suas emoções mais fortes para fora. Bem, It’s Such A Beautiful Day é esse filme para mim. Eu o conheci após o término do meu primeiro namoro, um momento muito conturbado na minha vida que resultou em uma depressão profunda de 6 meses. O único motivo de eu estar aqui escrevendo este texto seja talvez porque eu via o filme de hoje constantemente… e por que comecei a fazer terapia. Recentemente, voltei a um momento de crise por motivos variados (me paga um jantar antes), então decidi revisitar esse filme para me dar um apoio emocional.
Acredito que o primeiro detalhe a ser mencionado antes de tudo é a animação. Os personagens são praticamente desenhos de pauzinhos, com designs simplistas a um nível extremo. O único detalhe que diferencia visualmente o personagem principal, por exemplo, é que ele tem um chapéu, e os outros apenas são identificáveis pois o narrador do filme, o próprio Don Hertzfeldt, os nomeia. Apesar disso, a movimentação possui fluidez e naturalidade, facilmente dando vida ao mundo e seus habitantes. O cenário é praticamente não existente, com apenas alguns objetos aqui e lá presentes em frente a um fundo branco. Mas não há a animação não é apenas feita de desenhos. Constantemente há usos de objetos e pessoas filmadas na vida real, muitas vezes embaçadas na edição ou reinterpretadas pela narração, mas sempre apresentadas como coisas fora da compreensão dos personagens. Toda a trilha sonora são gravações de música clássica, mas não deixe isso lhe estranhar, pois as canções acentuam os tons das cenas, elevando-os a parâmetros emocionais exageradamente altos. Todas as características presentes nos aspectos técnicos do filme parecem de uma produção muito meia-boca ou talvez não terminada, mas graças à abordagem minimalista de Hertzfeldt, toda a atenção do espectador está focada no texto, sua atração principal.
Se há uma história aqui é complexo de dizer. Certamente há uma narrativa, uma evolução de eventos e personagens, mas isso não é foco aqui. A maneira que o texto apresenta cada situação é sempre memorável e única. Não há um único momento “normal” no filme. Acontecimentos fantásticos, assustadores e psicodélicos ocorrem constantemente, e são sempre interessantes. Mas há também um tom cômico ao longo do filme. Há muitas piadas recorrentes em sua duração, e até mesmo quando não tem piada, há uma vontade de rir de algumas colocações e situações absurdas, sempre reforçado pelo tom da narração, que dá um tom de blazé a tudo, como se tudo que estivesse acontecendo fosse normal. Há também um pouco de “piscou, perdeu” no filme. Ele constantemente está jogando coisas para o espectador em um ritmo tão acelerado que talvez você não pegue todas as falas e detalhes na primeira vez que ver. Talvez até mesmo vendo esses detalhes depois que ver uma, duas ou sete vezes no mesmo dia. Mas mesmo com tudo isso, o filme também toca na sua parte sentimente.
Acho que é impossível não se identificar com Bill durante todo filme. Hertzfeldt coloca muito em evidência as pequenas coisas da vida, foca nos detalhes mais aparentemente insignificantes e nos mostra os terrores, os pulos lógicos e certamente a beleza de como vemos, podemos e, possivelmente, veremos o mundo. Há vários conceitos filosóficos que não possuem uma base religiosa, e sim muito mais científica. Eu diria que é algo numa ideia de niilismo otimista, porém não sou a referência para dizer isso, então passe essa afirmação por um filtro. Isso também contribui a questão do significado do filme em si. Ao meu ver, o longa não possui significado, mas este fato que traz o significado do mesmo. A vida é algo muito ilógico, estranho, incompreensível e muitas vezes assustadora, como é mostrado no filme, mas não quer dizer que ela não tenha seus momentos de beleza. Há coisas incríveis no dia-a-dia que sempre passamos direto. Há maravilhas às vezes no fato de estarmos aqui respirando o mesmo ar que o outro, mesmo que tu tenha que passar por muita dor até chegar lá.
Há uma outra questão, um pouco mais pessimista que, claro que não poderia deixar de mencionar, mesmo ela sendo um pouco menos abstrata e talvez vendo coisa onde não tem. No filme, há uma questão de condições psicológicas em um família. Em geral, os parentes de Bill possuem algum tipo de patologia, seja esquizofrenia, depressão ou ansiedade. Nunca é explicitamente dita qual que é, mas ao olho mais atento, os sintomas estão presentes neles. E em todos os casos, essas condições não são tratados, e acabam extravasando todos o estresses e complicações em cima de seus filhos, fazendo com que eles desenvolvam alguma patologia em si, e assim por diante. Isso gera um ciclo de sofrimento e confusão, em um mundo que não é gentil com pessoas que possuem alguma coisa do gênero, e tudo isso culmina em Bill. Ele constantemente vai a consultas médicas, sempre tratando algo que não se sabe ao certo o que é. Ao longo do filme, sua patologia misteriosa piora cada vez mais e mais, culminando em seu “fim”. Talvez se seus parentes tivessem feito algum tipo de tratamento, algum tipo de ajuda, Bill estaria melhor, e não teria sofrido tanto por confusões e preocupações. Mas apesar disso, o fim do longa possuí um tom otimista, logo o meu receio dessa interpretação.
It’s Such A Beautiful Day é um filme praticamente perfeito em execução, temas e ideias. Sua simplicidade é sua maior força e facilmente acaba sendo um dos longas meus favoritos e recomendo fortemente a todos verem.
Classificação: 10/10
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-O Porco