Malèna (2000)
Malèna é um filme de comédia dramática lançado em 2000. Ele é escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore, possui trilha sonora feita por Ennio Morricone e estrela Monica Bellucci e Giuseppe Sulfaro.
O filme se passa em uma pequena vila na Itália em 1940 e conta a história de Renato, um menino de 13 anos, que se apaixona e se obceca por Malèna, uma mulher de 27 anos, filha do professor de Latim dele e a mulher mais bela e desejada de toda a vila.
Este filme me foi recomendado por um amigo de um grupo de Discord sobre filmes, com as únicas informações a respeito sendo “tem uma cena muita engraçada que uma mulher pega um cigarro e muitos vem acendê-lo” e “Ennio Morricone faz a trilha sonora”. Não diria que fui vendido na ideia mas certamente fiquei intrigado. Sou um grande fã de Ennio Morricone já que ele fez a trilha sonora para vários dos meus filmes de faroeste favoritos, como Três Homens em Conflito(1966) e Por um Punhado de Dólares a Mais(1965), sem contar a trilha sonora de filmes como Era Uma Vez Na América (1984) e Os Oito Odiados(2015). Eu sabia que mesmo se o filme fosse péssimo, no mínimo a trilha sonora salvaria. Após vê-lo certamente fiquei, como posso dizer, conflituoso.
O filme por um lado é praticamente perfeito nas questões técnicas. A ambientação do filme é, aos olhos desta pessoa que nunca foi à região, não só fiel à época, como também visualmente fascinante. O trabalho de câmera traz todo o esplendor da arquitetura local da época como também as paisagens da região. A trilha por Ennio Morricone, como mencionado antes, seria praticamente impossível de ser ruim, e pode até ser considerado a melhor característica do filme. A música traz uma sensação quase de conto de fadas ao filme, fazendo até mesmo você se sentir novamente como uma criança em vários momentos dele. Esta trilha mostra o alcance que Morricone tem como compositor, ele consegue ir de músicas tensas em uma cena de tiroteio até fazer você sentir uma magia tocar sua criança interior. Mas até mesmo esses fatores positivos do filme trazem uma contradição não apenas presente, como inquietante ao filme.
A história é, como em Cine Paradíso (filme mais famoso de Tornatore) uma comédia sobre o amadurecimento do homem na sociedade, mas desta vez pegando o ângulo sexual do assunto. Mas o filme não trata disso com um tato refinado e isso acaba deixando seu tom desconfortável ao espectador típico. Espera-se pelo menos.
O filme como mencionado anteriormente, é uma comédia, e na maior parte do tempo ele possui mesmo este tom. Os personagens são exagerados e cartunescos, com exceção de alguns ali e aqui. Eles são colocados em situações extremamente pesadas, como abuso familiar e assédio, mas agem como desenhos animados. Isso não é algo necessariamente ruim, dependendo da execução pode-se ser usado para fazer um comentário em cima desses tipos de acontecimentos, mas em Malèna eles são apenas apresentados como cenas de alívio cômico, sem nenhum tipo de comentário ou sátira por cima. Esse tom cômico também traz um conflito com algumas outras cenas que o filme quer que você leve à sério. Ele parece incerto do que quer ser: um filme cômico sobre o amadurecimento sexual do homem ou um filme sobre os horrores da guerra e como isso afeta as pessoas comuns.
Renato, o protagonista do filme, é um dos personagens que foge um pouco do cartunismo do elenco. Ele é um pré-adolescente de 13 anos com os hormônios à flor da pele com apenas um foco em mente: conquistar o amor de Malèna. Mas apesar disso, ele é até bem desenvolvido. Você consegue sentir sua insegurança e de que ele sente que não possui uma voz na sociedade em que ele está. Renato é constantemente empurrado ou humilhado por toda sua vila, inclusive sua família. O personagem também é bastante reativo. Toda vez que é criticado, ele tenta “consertar” o que lhe foi dito, seja na cena seguinte ou alguma outra posterior. O melhor exemplo disso é quando seus “amigos” o humilham por ter o menor pênis do grupo (sim isso acontece) e lhe falam que é por conta dele usar uma calça muito curta. Logo, Renato imediatamente vai a um alfaiate para alterar o tamanho de uma outra calça que roubou de seu pai. O próprio fato de Renato se apaixonar e desejar Maléna para si pode ser interpretado como uma tentativa de imposição de superioridade diante de seus amigos e de toda a cidade, já que todos os homens a desejam. Renato também tem uma visão extremamente romantizada da sua “relação” com Malèna, principalmente quando ele imagina os conflitos e desejos que tem por ela como um filme, geralmente estrelando os dois como um casal. Falando em Malèna, vamos abordar seu personagem.
Talvez meu maior problema com o filme seja a personagem do título, Malèna, ou melhor, a falta de personagem dela. Se ela tiver 10 falas no filme inteiro, é um exagero. Ela é apenas a mulher bonita da vila, no máximo “a viúva gostosa”. Durante o filme todo, Renato só a vê como uma mulher bonita, mas em nenhum momento ele é desafiado em sua visão. A cidade toda a vê assim e a glorifica/crucifica por conta do, parafraseando o filme, crime da beleza. Claro que isso pode ser usado como uma crítica de como a sociedade vê e trata a mulher, mas nenhum momento consigo alguma cena que dê suporte a este argumento. Ao longo do filme, a cidade pune mais e mais Malèna por ser apenas ser uma pessoa bonita. Ele tenta justificar as ações da vila com uma cena dela se “envolvendo” com nazistas, mas é muito mal colocado e só parece que foi feita para isso, justificar as ações da vila. E a solução do filme para este conflito todo é simplesmente “a cidade aceita como Malèna é”. A personagem no final das contas não é diferente de uma arca da aliança ou um santo graal, apenas um objeto que o protagonista deseja em sua jornada.
Em conclusão, Malèna é um filme esteticamente belo e com uma linda trilha sonora, mas que possui em seu núcleo apenas uma história fraca com mensagens possivelmente problemáticas, fazendo com que os fatores bons sejam completamente irrelevantes.
Classificação: 4/10
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-O Porco
