Matinee(1993)
Matinee é um filme de comédia lançado em 1993, dirigido por Joe Dante(Gremlins), escrito por Jerico Stone e Charles S. Haas e estrelado por John Goodman.
O filme se passa na pequena cidade de Key West, Flórida, durante a crise dos mísseis de cuba(1962). Aproveitando o clima de paranoia ao redor deste evento, Lawrence Woosley, um diretor de cinema, decide lançar seu filme de monstro mais recente: Mant!
Matinee chegou as minhas recomendações através de um podcast que escuto, Almost Cult Classics Podcast, e a trama me intrigou bastante. Um dos principais fatores foi a origem do personagem de Woosley, William Castle. Castle era um diretor de filmes B de terror e que usava de artifícios para vender os seus filmes, tipo cadeiras que davam choque, um fantoche de um fantasma “voando” pelo cinema e, talvez um dos seus mais famosos, o óculos 3D. Os filmes em si são bem chatos e toscos, e já que não é possível ver eles com os artifícios, não há motivos para vê-los. A “arte” de Castle não durou muito tempo, já que era muito caro e fora de mão preparar os cinemas para seus filmes, mas não deixa de ser um pedaço interessante da história da sétima arte. Juntando isso com a paranoia nuclear/vermelha dos anos 60, é certo que eu não podia deixar de ver Matinee.
O filme não perde tempo nenhum. Nos primeiros minutos ele já estabelece a trama, como também o amor do protagonista do filme, Gene Looms, por filmes de terror e o relacionamento que tem com seu irmão. Também mostra a paranoia da era nuclear na cidade e as conexões sociais de todos os outros personagens do filme. O diretor do filme, Joe Dante entende muito bem como funciona a estrutura de filmes pipoca americanos, e sabe executá-las muito bem, que nem o Dan Harmon (Community, Rick and Morty) mas diferente dele e até mesmo de seu outro filme, Gremlins 2, Joe não subverte nenhum dos clichés presentes, praticamente executando-os rotineiramente. Os relacionamentos românticos são todos previsíveis, há uma posição muito mais politicamente centrista no filme e ele possui uma cinematografia típica e genérica da época, além de outros clichés e problemas do cinema dos anos 90. Tem alguns elementos ali e aqui que são engraçados ou interessantes, mas a maioria dessas coisas na introdução são de se esperar deste tipo de filme da época, logo não surpreendem. Porém tudo isso muda com a introdução de Lawrence Wooley, interpretado por John Goodman.
Quando Wooley aparece, o filme já ganha uma energia diferente. John Goodman interpreta o personagem de maneira tão cativante, que ele rouba toda cena que está presente. Lawrence Wooley é um diretor de cinema e, na verdade, assim como Castle, está mais para um grande vigarista. Mas ele não é um vigarista qualquer, ele acredita no que está vendendo. Sempre promove seus filmes de uma maneira divertida intrigante, seja com pessoas falsamente protestando na frente do cinema ou, como a base da trama toda da película sugere, usando o medo coletivo das pessoas na época para assistirem seu filme. Goodman consegue passar isso tão naturalmente, que você se cativa a cada segundo em que ele aparece em tela. Mas como disse antes, ele é sincero na sua vigaritisse. Ele põe o seu suor e sangue em tudo que faz. Ele não está fazendo um filme tosco com artifícios fajutos porque quer ganhar dinheiro (bem, não só por isso) mas porque ele ama fazer isso. Wooley faz discursos ao longo do filme que romantizam bastante o trabalho da produção e até mesmo dos funcionários do cinema, e, claro que pode ser tudo baboseira, mas do jeito como ele fala a respeito do assunto, é difícil imaginar que ele não esteja cativado de fazer o que faz. Ele até mesmo eleva outros personagens do filme, como a amizade que ele cria com Gene. É uma química que ele traz às interações dos dois que te deixa muito mais envolvido, dando até um núcleo emocional para o filme.
Quando a sessão começa, a melhor parte vem junto. Primeiro, o filme dentro do filme, Mant! Ele conta a história de um homem que, por conta de um acidente com a radiação de um raio-x, teve o seu DNA misturado com o de uma formiga, logo se transformando em um inseto gigantte e deixando ele louco. Só pela sinopse já dá para ver que poderia ser facilmente um filme de monstro dos anos 60, com claras influencias vindas de A Mosca da Cabeça Branca(1958) e O Mundo em Perigo(1954), sem contar que ele emula todas as características desses tipos de filme. As cenas em si são intencionalmente muito toscas, tem algumas explicações “científicas” dos acontecimentos e as atuações são bastante teatrais e exageradas, mas sempre interpretadas de maneira séria. É uma grande carta de amor a esses tipos de cinema, e eu amo cada segundo dele.
Mas Mant! vem picado dentro das coisas que acontecem na sessão em si. Tudo que foi estabelecido anteriormente, volta. A princípio a sessão começa bem, com os artifícios preparados funcionando como deveriam e Wooley aproveitando cada momento que alguém pula da cadeira ou leva um grande susto. Mas logo, como de se esperar, as coisas começam a sair do controle. Muitos imprevistos começam a aparecer, e o coração do espectador não para por um segundo, mas o filme também nunca deixa de ser leve. O final maneja bem o aspecto da diversão com a tensão. Toda a energia que não estava presente no resto do filme, foi colocada toda no final dele. Mas tudo dá certo quando acaba (a sessão é um sucesso, prendem o cara mal no final, etc), até fazendo uma conexão com algo que Wooley menciona em um dos seus monólogos: “E logo quando tudo está ruim, quando eles estão sentados lá e seus corações estão que nem animais perdidos no escuro. Nós os salvamos! E eles dizem ‘Hey, está tudo bem! Graças à deus! Podemos ver isso de novo?’ P.S., Não podem não. Nós tiramos tudo entre cada sessão” É difícil não acreditar que Dante não tenha uma filosofia parecida.
Apesar de um começo bem chato, é muito difícil não ser cativado por Wooley ao longo do filme e de não ser puxado pelo final energético presente. Caso esteja à toa em casa, querendo ver algo leve e divertido, dê uma chance a Matinee!
Classificação: 7/10
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Oinc Oinc
-O Porco