Native Dancer — Wayne Shorter e Milton Nascimento
Este álbum foi sugerido por Antônio Augusto.
Native Dancer é o décimo quinto álbum do saxofonista de jazz, Wayne Shorter, que colabora desta vez com o músico Milton Nascimento. O LP foi lançado em 1975 e distribuído pela Columbia Records.
Wayne Shorter é um compositor e saxofonista americano que começou sua carreira com a banda Jazz Messengers, mas que eventualmente se juntou ao grupo Second Great Quintet do Miles Davis, onde fez conexões com outros músicos da cena como Herbie Hancock e John Coltrane. Milton Nascimento é um cantor, multi-instrumentista e compositor. Ele é um dos maiores nomes da MPB, tendo reconhecimento mundial, principalmente pelo álbum que gravou junto de Lô Borges, Clube da Esquina.
Como se espera de alguém criado “no rock”, eu estive em um ambiente com pouca exposição à música brasileira, tirando daquelas bandas que são “do rock.” Ironicamente, odeio a maioria delas no momento. Hoje em dia no entanto, sinto arrependimento de não conhecer tanto do nosso som quanto eu gostaria. Por conta disso decidi pegar algumas obras de samba, bossa nova e MPB para ouvir, já que há uma pequena interseção histórica entre esses gêneros e o jazz, um gênero que já estou mais familiarizado. Meu gosto do estilo, inclusive, costuma ir dos clássicos até algo mais experimental, porém um nome que nunca ouvi diretamente foi Wayne Shorter. Mas após uma pesquisa rápida, e pelos nomes com quem já trabalhou nem tenho dúvida que o seu sax não me seja estranho, já que ele tocou em Head Hunters de Herbie Hancock e Bitches Brew do Miles Davis. Então, quando meu grande amigo Antônio Augusto me pediu uma resenha de um álbum onde os dois colaboraram, decidi juntar o útil ao agradável, e ampliar meu gosto em ambos desses mundos.
Native Dancer é um álbum de jazz antes de tudo, logo a instrumentalização bebe muito do gênero. E, como é de se esperar, os músicos não deixam nada a desejar na questão performática. As improvisações são tão quanto o vento com a banda se mostrando completamente sincronizada, especialmente nas faixas From the Lonely Afternoons e Lilia. Mas o diferencial do álbum é o seu foco maior na percussão por conta de suas influências brasileiras. O grupo consegue incorporar esse elemento muito bem nas canções. Emocionalmente falando, o álbum também traz alguns elementos que me remeteram a uma mistura de aconchego e melancolia, como se estivesse chorando de felicidade no braço de alguém que te ama. Há canções com energia, mas no momento que a obra usava deste sentimento, eram os momentos com uma personalidade mais única do álbum e quando ele está em seu melhor.
Quando ouvi Clube da Esquina pela primeira vez, sempre senti mais atraído pelas composições de Lô Borges, já que elas usavam influências mais perto de casa, como jazz, rock, e até mesmo um quê de prog. Acredito, no entanto, que quem traz o maior sabor para a sopa dessa vez seja o nosso querido Milton. Em Native Dancer, ele faz o inverso de antes, e traz ao jazz de Shorter a brasilidade nossa, especialmente a bossa Nova e o samba. Essa característica consegue tirar várias faixas de um “smooth jazz genérico” para algo realmente marcante e gostoso de ouvir. O álbum também é relativamente acessível se você está mais habituado a MPB e relacionados, com um som mais leve com e uma veia americana menor do que outros álbuns do tipo. Mas certamente o meu elemento favorito seria a voz de Milton. Não conheço muito de sua discografia, mas ele não costuma cantar em um tom tão agudo quanto aqui, e é certamente o que leva uma canção boa ou memorável para algo fenomenal. Certamente passei a querer descobrir mais de sua carreira após ouvir este disco.
No entanto, não posso dizer o mesmo para Shorter. Algo que me incomoda muito no jazz, é quando ele assume uma característica mais pop. No caso não estou me referindo à época em ele era o gênero mais mainstream ou até canções antigas que eram covers. Uma das músicas mais influentes do estilo, My Favorite Things do John Coltrane, não é uma composição original, inclusive. Elas ainda tentam, por um meio ou outro, fazer experimentações musicais ou improvisos impressionantes. Ainda há artistas assim claro, BADBADNOTGOOD sendo minha favorita do momento, mas a maior parte dos outros músicos do gênero simplesmente fazem apenas uma versão “jazz” de músicas pops recente, com o mínimo de experimentação possível, sendo o maior exemplo disso Michael Bublé. Infelizmente as canções com Wayne na liderança caem muito para esse nível, mesmo sendo originais. Elas ainda usam a influência brasileira, mas infelizmente não é o suficiente para te tirar do sono que dão. Muitas até mesmo sinto que é mais ele se exibindo do que necessariamente um grupo de pessoas tocando e improvisando juntos. Isso não seria um problema se fossem apenas algumas faixas, mas é praticamente metade do álbum, então acaba sendo algo relevante demais para ignorar.
Native Dancer possui grande canções e elementos fortes por conta da inclusão de Milton Nascimento, mas acaba caindo em clichés do gênero que tiram o seu grande potencial.
Classificação: 6/10
Músicas que Mais Gostei: Ponta de Areia, Lillia, From the Lonely Afternoon
Músicas que Menos Gostei: Joanna’s Theme, Ana Maria, Diana
Classificação: 6/10
Músicas que Mais Gostei: Come Up with Me, Magic Easy, Metereological
Músicas que Menos Gostei: Walls of the Universe, Green Apple, Jackie’s Daughter
Semana que vem estarei fazendo uma surpresa inesperada. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!
Oinc Oinc
-O Porco