O Fantástico Sr. Raposo(2009)
O Fantástico Sr. Raposo é um filme de comédia que é baseado no livro de Road Dahl de mesmo nome. Ele é dirigido por Wes Anderson(O Grande Hotel Budapeste), que adaptou a história junto a Noah Baumbach(História de um Casamento). O longa estrela George Clooney(Onze Homens e Um Segredo)e Meryl Streep(Mamma Mia!).
Após o nascimento do seu filho, Raposo(George Clooney) e sua esposa(Meryl Streep) vivem uma vida sem muitas aventuras, mas após se mudar para frente dos três maiores fazendeiros da região, ele decide fazer um último roubo.
Ainda me lembro de 2017, onde meu vício em Wes Anderson estava extremamente forte. Ninguém conseguia escapar. Eu o recomendei para os meus amigos, meus pais, até minha namorada que tinha naquele tempo. Talvez seja por isso que terminamos. A única coisa que conseguia falar era “OLHA COMO ESTÁ TUDO CENTRALIZADO” e “POR QUE VOCÊ NÃO VOCÊ NÃO RI DESTE HUMOR RIDÍCULO?” e, é claro, “OLHA AS CORES PASTÉIS DESSA PORRA CARA!” Certamente foi uma época sombria, porém isso tudo está no passado agora, e fico feliz que muitos amigos continuaram a conversar comigo mesmo depois de tanto sofrimento. Ainda aprecio muito o Wes Anderson, não vendo-o como um messias na terra como antes, mas alguém com um estilo muito forte e presente. Sem contar com o fato que, se eu não tivesse a obsessão naquele momento da minha vida, talvez o meu conhecimento da arte, tanto do cinema quanto em geral, seria completamente diferente do que é hoje. Recentemente, decidi revisitar alguns dos meus velhos amigos dessa época para ver se eram realmente tão incríveis quanto eu lembro. Considerando isso, vamos então falar sobre um dos seus filmes mais famosos do diretor: O Fantástico Sr. Raposo.
A primeira coisa que tu notará é toda a estética visual do filme. Ela passa um forte sentimento de aconchego, talvez até mais que as outras obras do diretor. Acredito que isso se deve por conta de alguns fatores. Um deles seria a questão de simetria que cada composição de cena contém. Geralmente tudo está ou alinhado ao centro, ou guiando o olhar do espectador para o mesmo. Por conta disso ele não precisa fazer muito esforço pois está constantemente olhando para o mesmo ponto, e isso acaba fazendo com que o indivíduo não se desgaste tanto. O outro elemento que reforça também essa questão de aconchego é a paleta de cores. Ela é constituída por diferentes tons quentes como laranja e vermelho, remanescendo muito uma época de outono. Mas ela também não se limita a apenas elas, já que em há vários momentos onde os personagens estão em uma situação desgastante ou desconfortável, a paleta muda para algo mais escuro, como nas cenas de esgoto ou quando eles estão sendo emboscados. Por conta desses elementos, é fácil dizer que cada frame desse filme poderia ser tranquilamente transformado em um quadro que fica pendurado na casa da sua avó, mas a animação também é algo que é fantasticamente hipnotizante. Boa parte dos movimentos são bastante fluidos e expressivos, com cada sujeito tendo uma maneira muito própria e única de mexer. Claramente dá para ver que a equipe de animação colocou tudo de si no trabalho, e se divertiu bastante durante o processo.
Mas acho que o fator que mais me ganha neste filme é o seu roteiro e o tipo de humor que ele usa. Uma típica cena dos filmes de Wes Anderson é composta por um personagem falando algo exageradamente absurdo ou focando em detalhes ultra específicos, mas sempre apresentados de uma maneira extrema blasé, com uma resposta quase que rotineira vinda do outro lado da conversa. O bom e velho humor seco que vem de comédias britânicas como Monty Python e Guia do Mochileiro das Galáxias. Esse tipo de comédia também é aplicado nas várias piadas visuais do filme, naturalizando as bizarrices que constantemente ocorrem. O outro detalhe do roteiro se trata dos temas que toca. O Fantástico Sr. Raposo fala de assuntos como crise de meia idade, o papel do indivíduo em sua comunidade, pressão familiar e, o meu favorito, relações com pessoas neurodivergentes. E o texto trata dessas questões não só de maneira respeitosa, como também compreensível o suficiente para crianças, já que se trata de um filme infantil. A representação do último inclusive, sendo um dos maiores focos do filme.
Acredito que um detalhe que possa afastar algumas pessoas do longa, seja o fator de sua “artificialidade”, mesmo sendo um dos meus aspectos favoritos. Na maioria dos casos, um filme tenta vender ao público que tudo que você está vendo na tela é crível dentro um mundo vivo e imersivo. Wes Anderson faz justamente o contrário. Toda sua estética exageradamente “perfeita”, que possui elementos bastante ridículos e irreais falam subconscientemente ao espectador: “Ei. Tu tá assistindo um filme tá?” O Fantástico Sr Raposo não é diferente. Isso para uma pessoa menos acostumada a esses elementos pode acabar afastando ela. Basta pegar as cenas de ações do filme que , apesar de bem coordenadas e animadas, são estúpidas, quase que patéticas e, para alguém que quer se sentir dentro de um filme, haverá um alto estranhamento, mesmo que mínimo. Isso, no entanto, somado ao estilo memorável do diretor, pode acabar que suas obras tenham um sentimento de mesmice entre elas. Eu consigo deixar isso de lado, mas se você for alguém que anteriormente já viu algo dele antes e não gostou, não vai ser esse que mudará sua visão.
Por conta de seu humor único, estilo memorável e execução quase que perfeita de seus temas, O Fantástico Sr. Raposo é uma experiência que todos deveríamos ver.
Classificação: 9/10
emana que vem estarei fazendo uma resenha do álbum Twisted Cristal do Guerrila Toss. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!
Oinc Oinc
-O Porco