O Gigante de Ferro (1999)
O Gigante de Ferro é um filme de animação infantil de 1999 baseado no livro The Iron Giant por Ted Hughes. O longa é dirigido por Brad Bird(Os Incríveis) com roteiro adaptado de Tim McCanlies (Quando Anjos Cantam) e estrela Vin Diesel (Velozes e Furiosos) e Eli Marienthal(Confissões de Uma Adolescente em Crise).
Hogath Hughes é uma criança de 10 anos que vive em uma pequena cidade nos EUA, durante os anos 50. Depois de salvar um enorme homem de metal, ambos criam uma forte amizade e Hogath tem que despistar um agente do governo que está atrás da criatura.
O que dizer desse filme que já não foi dito antes? Que ele é tipo comer um macarrão à bolonhesa feito pelo melhor chefe da Itália? Bem, provavelmente ninguém disse isso. Independente, eu ainda lembro quando vi esse filme na época, sendo apenas um leitãozinho, e dizer que estive apaixonado por ele desde então seria um enorme eufemismo. Eu lembro que me emocionei tanto com ele que eu, alguém que nunca chorou com filme até então, se secou todo. Porém as coisas mudam com o tempo. Pessoas envelhecem e ideias amadurecem. Então aproveitei para visitar esse velho clássico esquecido(ou será mesmo?) pelo tempo, e ver se ele também envelheceu como eu envelheci.
Acho que a primeira coisa que se percebe quando se vê o filme é a animação. Simplesmente incrível! Apesar de alguns momentos os rostos parecerem meio estranhos, a fluidez e o movimento presentes aqui não poderia ser melhor. Você pode pegar exatamente como um personagem age e pensa apenas pelo seu design e andar. Há tanta expressão nas faces e na animação de cada pessoa, que acho difícil não ficar encantado por este fator. Um outro detalhe do filme é como ele usa animação tridimensional. Em 1995, Toy Story foi lançado e o mundo viu que o futuro da mídia estava na animação 3D. Sinceramente houveram muitos erros, a maioria dos filmes acabaram com uma qualidade gráfica que envelheceu mal, com elementos que teriam sido bem melhor implementados com animação tradicional. Brad Bird também entrou nessa moda, mas soube exatamente como usá-la. No filme há apenas um personagem que é animado desse jeito, o próprio Gigante, fazendo com que o personagem fique ainda mais alienígena dentro do universo do filme, mas com um design carismático o suficiente para não estranhar quem está vendo.
Mas animação não é tudo, e os personagens? Ah meu amigo/amiga/amigue, apenas digo uma palavra: Brad Bird. Na verdade foi duas, mas você entendeu. Bradinho (porque somos amigos de longa data) sempre faz um trabalho excepcional nessa área. Ele escreve seus personagens de maneira que sejam caricatos, mas sempre carismáticos e tridimensionais, fazendo que seja muito mais fácil simpatizar com eles. É mostrado claramente que todos eles tem uma motivação para fazerem o que faz, e nenhuma ação fica fora de personagem. Sem contar que a comédia do filme também é extremamente efetiva por conta disso. Ela não é baseada em frases soltas, ou piadas sem contexto, mas sim nos próprios personagens e situações que ocorrem. Momentos que você olha e pensa: “Claro que ele agiria assim!” Isso faz com que as coisas nunca pareçam gratuitas ou estúpidas. E mesmo se forem é porque o personagem em si é estúpido. Inclusive, a própria história acaba se beneficiando deste fator. Os fatos se conectam de A a B naturalmente, em nenhum momento parecendo que seja aleatório ou que o “roteiro precisava.” Ela te deixa envolvida com seu desenrolar, torcendo sempre que tudo dê certo para os protagonistas. Mas talvez o que faz esse filme todo funcionar seja o que está em seu cerne.
Se a dinâmica entre Hogath e o Gigante fosse um pouco menos efetiva, o filme talvez não seria nem 10% do que é. Como o resto do longa, ela é algo tão natural que em momento nenhum você deixa de ficar envolvido. O Gigante em si age como uma criança, mas ele não é estúpido, apenas ingênuo. Isso traz duas coisas importantes para a dinâmica entre ambos. Numa questão de roteiro, permite que Hogath assuma o trabalho de ensinar a sua contraparte como agir e como o mundo funciona, assim como um irmão mais velho faz(em teoria), mas também permite que a audiência não se frustre com o Gigante, já que é claro que ele aprende coisas ao longo do filme, e não acabe sendo apenas um elemento para causar caos aleatório e “progredir” a história. O filme também usa dessa amizade para conversar sobre alguns temas mais pesados ou complexos mas de uma maneira apropriada para crianças, como o como as pessoas agem diante paranoia geral e a morte. Toda essa amizade inclusive se culmina em um final praticamente perfeito e emocionante que, se você não sentir nada, você certamente está morto por dentro.
“Ah Porco” você diz a um texto escrito a uma semana atrás, “esse filme é relativamente conhecido, você está escrevendo esse texto apenas para puxar saco dele?” Parcialmente. Há também o fator do filme ter sido extremamente injustiçado. Quando foi lançado, quase ninguém viu ele no cinema, sendo praticamente um flop. Mas como isso ocorreu sendo que esse filme é praticamente uma obra-prima do gênero? A resposta chama Warner Bros. Inicialmente, o filme foi produzido exigindo um roteiro bem mais convencional e genérico, algo quase Disney, que estava dominando os cinemas na época (quando não né?), mas Brad Bird e Vin Diesel decidiram ignorar essa ordem e manter a visão original do filme. O estúdio, em resposta, não promoveu o filme de forma alguma, quase mostrando um “quem manda sou eu” para os dois. Mas graças à nossa divindade incompreensível moderna, o filme começou a ter um cult following, com um relançamento feito e muito mais pessoas cientes dessa obra de arte. A lição disso tudo crianças é: Não Confie em Estúdios!
O Gigante de Ferro, apesar de parecer muito simples, é executado de uma maneira tão excepcional e fenomenal, que é difícil não apreciá-lo. Muito parecido com um macarrão à bolonhesa feito pelo melhor chefe da Itália.
Classificação: 9/10
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Oinc Oinc
-O Porco