Thrill of the Arts — Vulfpeck
Thrill of the Arts é o primeiro álbum de estúdio da banda Vulfpeck, lançado em 2015 pela distribuidora Vulf Records.
Vulfpeck é uma banda de funk do Michigan formada por Jack Stratton(teclado, bateria e guitarra), Theo Katzman(guitarra, bateria e vocais), Woody Gass(teclado) e Joe Dart(baixo), porém a banda frequentemente colabora com outros músicos como Antwaun Stanley, Joey Dosik e Cory Wong. A banda é conhecida pelos seus vídeos e clipes no YouTube que possuem uma edição bizarra e cômica. Ela também possui alguns feitos notórios, como quando lançaram Sleepify, um álbum com 10 músicas de puro silêncio, e pediram para seus fãs ouvirem ele em loop enquanto dormiam, e também por terem lotado o Madison Square Garden, mesmo não terem nenhuma propaganda ou hit single.
Até mesmo antes de eu me envolver e nadar no mar da Neopsicodelia e das bandas modernas, eu já ouvia falar de Vulfpeck. Canais de música, especialmente Adam Neely, a mencionavam constantemente e sempre fui recomendado faixas avulsas deles pelo Descobertas da Semana no Spotify, e também por uns amigos mais dentro da “cena”(olhando pra você Thiago). Aproveitando que recente fui enviado pelos deuses para descobrir e aprofundar meus conhecimentos musicais, decidi colocar Vulfpeck na lista, já que gostei muito das músicas que ouvi antes e sempre tive curiosidade de descobrir mais sobre eles. Comecei então pelo seu primeiro álbum de estúdio, Thrill of the Arts.
Quando o álbum começa, você é imediatamente saudado com uma música muito groovada e divertida, Welcome to Vulf Records. É impossível não se deixar levado pelo funk de altíssima qualidade presente aqui. A banda está completamente sincronizada dando a você tudo o que precisa, puro groove. Essa música está aqui pra te falar: “Bem-vindo ao álbum e à gravadora, fique à vontade para dançar.” A mixagem é refinada, com cada elemento tendo clareza e com uma distribuição de canais eficaz para cada instrumento, te deixando com nada além de uma euforia sonora. Depois dela vem a música Back Pocket, e dá para ver exatamente o que a banda está fazendo.
Este disco não é um disco qualquer. Ele é um disco de funk dos anos 70. E a banda não faz esforço em esconder suas principais influências: Michael Jackson, por conta do tom e dos trabalhos vocais em músicas como Back Pocket e Game Winner, e Funkadelic/Parliament, com o experimentalismo vocal e a mistura de rock e funk presente em Funky Duck e Rango II. Thrill of the Arts também possui algo que amo quando aparece em um álbum, transições invisíveis. Você só percebe que a música anterior acabou quando a próxima começa e isso ocorre em todas elas (com exceção de uma que falaremos mais para frente). Ao mesmo tempo evitando um problema que ocorrem em muitos álbuns como Nonagon Infinity e Murder of the Universe do King Gizzard and the Lizard Wizard, que quando você vai ouvir as faixas isoladamente, elas acabam ficando sem contexto ou sentido. Por conta disso, as músicas do álbum funcionam em conjunto ou caso queira escutar só uma ou outra. Mas, pelo fato dele pegar tanta influência de seus predecessores, ele traz consigo alguns incômodos recorrentes do gênero e da época.
Game Winner é a provavelmente a música mais lenta aqui, e, apesar de ser agradável e ter performances incríveis, ela acaba arrastando o fluxo do álbum e parecendo uma daquelas músicas clichés de amor presentes em obras inferiores do gênero. A faixa, como o resto do álbum, ainda é muito bem mixada e harmonizada, mas acaba sendo esquecível por conta da própria proposta da mesma. Junto a ela, Christmas in L.A. é onde a adoração da época começa a mostrar seu lado feio. A canção é uma referência ao fato que artistas da época faziam em grande escala: a infama canção de natal. Seja por ironia ou feita sinceramente, a faixa acaba ficando muito piegas, com todas as suas simbologias natalinas. Ela também força a estrutura musical presente no álbum, algo muito recorrente com obras do gênero. Mas mesmo assim, apesar desses tropeços, Thrill of the Arts ainda assim tem um truque na manga que acaba te pegando de surpresa. Porém é uma experiência muito única que não quero estragá-la, então caso não queira tomar “spoiler” do álbum, pule esse próximo parágrafo.
Quando você chega na penúltima faixa, Smile Meditation, você já sabe o que esperar das músicas. Está tudo lá o groove, o funk, aquela vontade de dançar, até o momento que você começa a ouvir uns sons diferentes. Se você estiver de fone de ouvidos, a experiência começa a remeter a um ASMR. Você sente quase cosquinhas no cérebro. E, de repente, a faixa corta. Sem transição nem nada, Guided Smile Meditation apenas começa, e ela é literalmente o que diz o título da música, uma meditação guiada. Só é apenas um homem com um sintetizador te orientando e lhe trazendo atenção a diferentes partes do seu corpo. Eu achei isso uma maneira fantástica de terminar o álbum já que a faixa é uma clara referência a músicas como Maggot Brain e Good Thought, Bad Thoughts do Funkadelic/Parliament, que estão muito mais próximas de poesias acompanhadas de algum(ns) instrumento(s). O seu texto sempre possui de uma mistura de filosofia sobre energias com um que sexual e Guided Smile Meditation não é diferente. Esse final é um ótimo laço e fechamento para todo o tributo que o álbum faz às suas influências e ao gênero como um todo.
Thrill of the Arts é um álbum de funk que praticamente saiu dos anos 70, e mesmo ficando muito preso às suas influências e ao gênero, é uma obra que todos devem ouvir caso gostarem de um funk old-school e me deixou atiçado para conhecer mais da banda.
Classificação: 8/10
Músicas que mais gostei: Funky Duck, Guided Smile Meditation e Back Pocket
Músicas que menos gostei: Christmas in LA, Game Winner
Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!
Oinc Oinc
-O Porco