Uma Cilada para Roger Rabbit (1988)

Suíno Artístico
5 min readFeb 4, 2022

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Uma Cilada para Roger Rabbit é um filme de comédia e mistério lançado em 1988, sendo levemente baseado no livro de mesmo nome. O longa é dirigido por Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro), com roteiro da dupla Jeffrey Prince e Peter S. Seaman (Se Viver, Mande um Postal), estrelando Bob Hoskins (Super Mario Bros.) e Christopher Lloyd(De Volta para o Futuro 2).

Em uma 1947, Eddie Valiant(Bob Hoskins), um detetive particular, é contratado para investigar um caso envolvendo a cantora desenho Jessica Rabbit, e acaba entrando em uma conspiração envolvendo o marido dela, Roger Rabbit.

Ano novo, vida nova! E a melhor maneira de começar um momento de possibilidades inéditas, é revistar um filme que eu e muitas pessoas não viram a muito tempo. Muitas dos que estiverem lendo este texto(e garanto que vai ter porque forço meus amigos a fazerem isso) vão lembrar de terem visto o longa durante a infância, graças a repetidas transmissões dele em canais de televisão aberto. No entanto, goblins de internet, como eu, tem uma memória diferente. Muitos vão lembrar da personagem da Jessica Rabbit, e nem vou falar do que aquele canto da internet fez com ela. Tem também os otários que viam análises de filme, como, novamente, eu, que se remeterão dos vários marcos de efeitos especiais que o filme trouxe para a tela grande. Pessoalmente, tenho memórias dele de quando vi mais novo, mas lembro de não ser muito fã, apesar dos motivos específicos serem vagos. Desde então estou querendo rever o longa. Será que ele é isso tudo que dizem ou o jovem porquinho tinha razão?

O filme certamente não peca em seus aspectos técnicos de forma alguma, já que estamos falando do Zemeckis em seu auge. O homem sabia como fazer um filme. Tanto a composição de cada cena quanto seu trabalho de câmera consegue criar um dinamismo e eficiência em que, mesmo tendo um ritmo acelerado, tu não sente que está perdendo nada do longa. A paleta de cor, apesar de não ser a mais memorável, consegue capturar a cena perfeitamente, seja da animada cidade dos desenhos, até a sombria entrada escondida de um bar ilegal. Mas certamente o que vende o filme, e a atração principal claro, é a animação, que, não só é fantástica como revolucionária. O filme se passa na década de 40, então sua influência vem majoritariamente dos desenhos da época, no caso, do tipo rubberhose, vulgo Cuphead, e dos dois gigantes da animação, Disney e Looney Tunes. Os animadores certamente consegue recriar o estilo perfeitamente, sem também perder a fluidez e a questão cômica que o caracteriza. Mas talvez o que me impressiona até hoje seja a interação que o live-action tem com os desenhos. Claro que filmes posteriores, como Space Jam: O Jogo do Século (1996) e Tom & Jerry — O Filme (2021) terem melhorado o efeito (mesmo sendo filmes consideravelmente piores), mas em 80% das cenas, ambos elementos interagem naturalmente. Isso é vendido, não só por conta da animação, mas porque há uma consistência física entre os dois mundos. Como por exemplo, se um desenho cuspir água real, o líquido vai continuar real, e vice-versa. Esse pequeno detalhe faz com o que todo o seu conceito lhe seja vendido muito bem e ajude ao espectador a acreditar no sei universo. Inclusive este é o outro aspecto que é feito magnificamente no filme.

Para atingir a ilusão dos desenhos e dos atores estarem na mesma cena, foram usados efeitos práticos, como nesta cena em que a algema está sempre estendida, dando a parecer que há alguém presa nela

Toda a ambientação e realidade do filme, mesmo a princípio parecendo absurda, é bastante crível e imersível. Pelo pouco que você vê a vida nessa Hollywood diferente, dá para entender como é a dinâmica entre as “pessoas” e os desenhos, sendo similar à uma analogia sobre como funcionava o racismo da década de 40. Como por exemplo, Ao longo do filme, a maioria dos desenhos são vistos trabalhando na indústria do entretenimento para um público branco, assim como Duke Ellington e Louis Armstrong fizeram, enquanto na cena do restaurante, todos os garçons são desenhos e os clientes humanos, sem contar de ambos terem bairros distintos, raramente tendo uma interseção de visitantes entre os dois, sendo este último um fato relevante à trama. Este é outro aspecto do filme feito maravilhosamente. Aparentemente Zemeckis tem um olho para escolher roteiros redondinhos, com quase, se nenhuma, ponta solta. Não só tudo que acontece parece lógico dentro do mundo do longa, como também pequenos detalhes que preparados antes, voltam ao filme mais tarde. Mas o meu fator favorito disso talvez seja que, se não fosse pela presença dos desenhos animados, que deixa tudo com um sentimento de bobeira, ele facilmente seria um filme de detetive dos anos 40, como o fato do personagem principal estar lidando com alcoolismo, ter um passado sombrio, ou sua investigação que, a princípio pequena, acaba envolvendo uma conspiração. O fato de como o roteiro usa elementos do gênero como um contraste com o resto do longa é certamente fascinante.

Porém o filme passa longe de ser só flores. Acho que um aspecto, mais especificamente uma personagem em específica, até mesmo transcende a fama do longa, como mencionei antes. Certamente você já deve ter visto a Jessica Rabbit em algum lugar, seja em fanarts, reinterpretações e, algo que vamos colocar aqui como Regra 34(pesquise por sua conta e risco). Porém, no filme em si, devo dizer que ela é a personagem mais desinteressante de todo o elenco. Ela representa um arquétipo da femme fatale, mas, sendo sincero ela não faz nada além de trazer um elemento sexy ao longa… infantil. Sua personalidade inclusive é incoerente com o resto do mundo, já que a maioria dos desenho possuem alguma coisa pateta que fazem, e ela seria algo mais sério, quase humano. Essa falta de personalidade faz ela ser uma das personagens mais desinteressantes, principalmente quando se compara ao resto do elenco que ela contracena. Uma outra coisa são as várias piadas de duplo sentido no filme. Isso se deve a alguns possíveis fatores, como o fato do livro original ser destinado ao público adulto, o gênero noire costuma ter temas mais adultos, ou, o mais provável, o pessoal colocou porque quis, mas ainda não deixa de ser um pouco estranho. Não me entenda mal, eu não sou contra esse tipo de piada, muito pelo contrário, eu até ri delas. Mas o fato de elas acontecerem tão frequentemente, e em alguns casos, tão explicitamente, me fazem questionar a classificação indicativa de dez anos que ele contém.

Apesar de alguns elementos questionáveis, Uma Cilada para Roger Rabbit é um filme que presta homenagem à sua influência e te prende em um mundo bastante intrigante.

Classificação: 8/10

Semana que vem estarei fazendo uma resenha do álbum Aphelion da banda Leprous. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!

Oinc Oinc

-O Porco

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Written by Suíno Artístico

Olá estranho. Neste canto infortúnio da internet, há um porco fazendo resenhas de obras artísticas. Se isso não te estranha, bem-vindo e boa sorte

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