Guerra dos Mundos (2005)

Suíno Artístico
5 min readAug 6, 2021

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Guerra dos Mundos é um filme de ficção científica dirigido por Steven Spielberg (E.T. O Extraterrestre) e escrito por Josh Friedman(O Exterminador do Futuro: As Crônicas de Sarah Connor) e David Koepp (Você Deveria Ter Partido), baseado na novela de H.G. Wells. Ele estrela Tom Cruise (Missão Impossível) e Dakota Fanning (Uma Lição de Amor)

Ray Ferrier (Tom Cruise) é um trabalhador de doca e um pai divorciado que passará o final de semana com seus filhos. Mas isso tudo isso é interrompido após a Terra ser invadida por alienígenas, fazendo com que eles tenham que sobreviver a esse ataque.

Se você me conhece, vai saber que curto uma boa e velha ficção científica. Apesar de ter tido sentimentos mistos em filmes e séries do gênero, costumo gostar muito dele em um aspecto literário. Claro que meu gosto cai mais dentro da era de ouro (anos 50 mais ou menos), mas também sou um apreciador dos precursores do gêneros, com os Jules Vernes e as Mary Shellies da vida, não esquecendo claro de H.G. Wells, o papai do hard scifi. Apesar de ser mais versado em seus contemporâneos, Wells é um escritor que tenho no mínimo respeito por colocar tão aberta suas visões políticas em suas histórias, tirando o gênero de um “e se…” ou simplesmente uma mudança estética das histórias da época, para algo mais próximo de um comentário sobre o presente, extrapolando seu futuro. Alguns exemplos de suas obras nesse aspecto seriam A Máquina do Tempo, que passa a questão da dinâmica que ocorre em trabalhadores e patrões, O Homem Invisível, criticando o individualismo capitalista e ideias libertárias, e, o assunto de hoje, Guerra dos Mundos, como uma forma de oposição ao imperialismo britânico. Particularmente, no momento de escrita desta resenha, eu ainda não peguei para ler a novela original nem assisti o filme de 1953, então não criticarei o longa de Spielberg dentro destes parâmetros, mas também não estou pegando esse filme para simplesmente ficar falando de scifi por horas e horas seguidas. Estou pegando porque ele era o próximo da lista de filmes e aproveitei para falar de algo que gosto muito. Mas vamos então à obra em si.

As imagens do Tripods evoca sentimento quase Lovecraftianos de insignificância e terror.

Depois da introdução meio “exageradamente explicativa”, a primeira reação que tive quando vi o filme é “uau, as coisas são certamente cinzentas”. Entendo que o filme quer ser bem mais denso e ter uma vibe puxado para o mórbido, mas puta merda, o brilho e o contraste presentes aqui são horrendos, sendo que é possível deixar esses fatores no mínimo interessantes sem perder o tom da história. Infelizmente uma outra característica técnica presente seria seus efeitos digitais, que certamente envelheceram como um pão mofado. Talvez o que salve esse aspecto seja o trabalho de câmera. Assim como em Punch Drunk Love, a maioria das cenas são contínuas, e deixando você sempre no meio da “ação”. Eu digo entre aspas porque o filme não quer ser um Independence Day, ou seja, uma aventura super divertida e otimista, mas algo muito mais sombrio e realista. O fato dele te deixar perto dos personagens, acaba lhe fazendo sentir minúsculo diante o horror que são os Tripods, as naves alienígenas da história, ou tenso nos momentos em que os personagens principais tem que sobreviver em situações de perigo. Você nunca sente “que foda eles salvaram o dia”. Invés disso, há a apenas ansiedade das coisas se resolverem logo, mas o filme prolonga esse sentimento o máximo que dá, sempre te deixando roendo as unhas.

Inclusive, este tom é algo que costumo gostar muito quando bem executado, e, em teoria, ele se encaixa aqui. Ele mostra o horror de um invasor externo acabar com nossa segurança que achávamos que tínhamos, e, no momento que a merda vai no ventilador e temos que trabalhar juntos, acabamos voltando aos nossos sentidos animalescos de cada um por si, jogando questão de comunidade pela janela quase que imediatamente. Juntando isso à como o filme trata o peso de perder a vida humana, diversão é a última coisa que há presente. Caso já não tenha pegado, Spielberg está tentando usar a história como uma analogia ao 11 de setembro, inclusive toda a atitude de vários personagens presentes é parecida com a do os americanos após o ataque, querendo se vingar das forças que os invadiram. A coisa é que, a maneira como isso é aplicado no filme é tão na cara e tosca que constantemente eu era tirado da narrativa. Os personagens e a cinematografia esfregam isso na sua cara o tempo todo, sempre usando as imagens visuais do evento e mencionando a palavra terrorista ali e aqui. Não há nada de sútil sobre isso. Inclusive todo o tom de “humanidade animal” se perde ao longo do tempo, tendo cenas bem do tipo “somos humanos e trabalhamos em equipe”, completamente contradizendo a mensagem anteriormente estabelecida no filme.

Porém o que certamente me deixa bem revoltado são os personagens. Puta merda, eles são horríveis! Na melhor das hipóteses, são completamente esquecíveis e na pior, imbecis e irritantes. Gosto muito do conceito de não seguirmos um grande grupo de pessoas, e manter o elenco mais ou menos ao redor de duas ou três pessoas, mas a maneira como eles são escritos faz com que seja muito difícil criar empatia, fazendo com que não eu ligue para eles quando desastres e perdas acontecem. O artifício do personagem do Tom Cruise ser alguém muito infantil, em contraste ao da Dakota Fanning, que é basicamente um adulto no corpo de uma criança, acaba deixando a dinâmica pouquíssima realista, não por conta dele, mas por causa dela. Mas não se preocupe, logo logo ela vira apenas alguém que o personagem principal tem que proteger, quando não está gritando loucamente com qualquer semblante de tensão que ocorre. O irmão mais velho, interpretado por Justin Chatwin, também não foge disso. Ele acaba geralmente tomando as decisões mais estúpidas do roteiro, perdendo apenas para o seu diálogo. Isso acabou com que eu simplesmente o odiasse com todos os nervos do meu corpo. A pior parte é que nenhum desses personagens possuem algum arco, além do genérico “pai aprende a cuidar dos filhos durante uma invasão alienígena”, e me deixou perguntado porque passei tanto tempo com esses idiotas.

Apesar de ter um grande potencial e conceito muito intrigante, Guerra dos Mundos falha em sua execução e temporalidade, se tornando um produto do seu tempo e envelhecendo muito mal.

Classificação: 5/10

Semana que vem estarei fazendo Review do álbum Islands do King Crimson. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!

Oinc Oinc

-O Porco

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Written by Suíno Artístico

Olá estranho. Neste canto infortúnio da internet, há um porco fazendo resenhas de obras artísticas. Se isso não te estranha, bem-vindo e boa sorte

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