Islands — King Crimson
Islands é um álbum lançado em 1971 pela banda britânica de rock progressivo King Crimson e distribuído pela Island Records.
Esta explicação se refere ao momento em que este disco em específico foi gravado. Para uma explicação mais geral da banda, clique aqui. Islands é o quarto disco do grupo, e Robert Fripp usa os integrantes que participaram da turnê de 1971–1972, sendo eles Mel Collins, Boz Burelli e Ian Wallace, com a última participação de Peter Sinfield, que é creditado como compositor de todas as canções junto a Fripp. Este é também o último álbum antes da formação ser trocada completamente para o LP Larks’ Tongues In Aspic, lançado em 1972.
Faz um tempo desde que continuei a minha jornada pela discografia do King Crimson. Não que não tenha escutado, inclusive revisitei o velho álbum Red, e relembrei o quão incrível a banda consegue me emocionar e hipnotizar (dentro das condições certas). Mas a jornada já estava acabando, pois que não queria entrar muito do que a banda fez durante os anos 80, com apenas Discipline me interessando, enquanto álbuns como Three of A Perfect Pair me deixavam bem entediado. Mas devo admitir que Islands, desde o início, já tinha me curiosidade, talvez até mesmo sendo o motivo de eu ter feito toda a viagem que fiz. Se olhar bem, a capa do álbum é algo bem simples, porém muito impactante para quem vos escreve, já que tenho uma tendência a se interessar por conceitos científicos e as magnitudes cósmicas presentes em nosso universo. Então devo dizer que as expectativas estavam altas quando cheguei nele, mas é aquilo, nunca devemos julgar um livro pela capa certo? Álbum nesse caso, mas independente…
Islands, apesar de ter um orçamento menor que seus contemporâneos, possui uma produção fenomenal. Ainda há a famigerada sujeira na mix que eu tanto falo, já esperada por conta da gravação em fita, mas ainda é bem menor que os outros álbuns da banda e de seus contemporâneos. Isso é por conta do fato que a maioria das faixas possui uso mínimo, senão zero, de instrumentos elétricos, que costumam trazer algum tipo de efeito, como uma distorção na guitarra. O uso de instrumentos acústicos não é algo estranho para a banda, já que ela constantemente têm membros recorrentes dedicados ao algo do gênero, como por exemplo o violinista David Cross que entrou na formação no álbum seguinte e continuou até 1974. Similarmente à Lizard, a mixagem de Islands continua bastante experimental. Por conta disso é comum ocorrerem coisas que costumam ser fora do “normal”, como por exemplo as várias vezes em que as partes percussivas das músicas estavam apenas em um canal, ou os vocais estivam nas duas caixas e o resto da instrumentalização estar baixo. Geralmente gosto muito disso, pois é como uma “puxada de tapete”, e acaba deixando as coisas muito mais dinâmicas, porém, como já tinha visto isso em seu antecessor, aqui me vejo muito menos impressionado.
Considerando esses fatores ditos anteriormente, faz sentido que o álbum tome uma direção diferente de Lizard, mesmo com uma base de influência similar. Ele ainda usa Jazz como sua expressão predominante, mas agora é algo muito menos caótico e agressivo, e sim um som bem mais calmo e improvisado, me fazendo sentir em várias vezes como um álbum de Jazz dos anos 50, mas com um tom de experimentalismo. Não que Islands seja desprovido de intensidade e conflito, afinal estamos falando de King Crimson, mas eles são muito mais a exceção do que a regra. As letras também possuem uma pequena divergência do que se espera da banda. Ao invés de mitos e lendas, como em In the Wake of Poseidon, ou ambientações arturianas, como em Lizard, os temas das canções se tratam mais dos conflitos internos do protagonista (ou do cantor/liricista), com cada música sendo um “ilha” do “eu” de cada um. Porém as letras não usam algo tão direto e literal, optando por usar a imensidão dos cosmos para tratar destes assuntos, sendo inclusive aludido pela capa do álbum, e, quando juntado à música, certamente traz algo belo ao ouvinte, tocando até mesmo as almas mais podres.
Mas o problema de Islands acaba vindo do seu “esqueleto”, tanto próprio quanto das canções dentro dele. Geralmente os álbuns do King Crimson são estruturadas de forma similar, com canções maiores, ao redor de 10 a 20 minutos, que abrem e fecham o álbum, comumente sendo os “eventos” dos mesmos com canções menores, que duram de 5 a 7 minutos. Isso costuma ser uma faca de dois gumes, já que pode acabar gerando uma montanha-russa de emoções seu ouvinte, sendo o melhor exemplo disso Starless, mas também, como ocorre aqui, acabar trazendo um sentimento de tédio à algo que pode acabar sendo de 20 a 70% do álbum. Não me entenda errado, há certamente algumas pérolas aqui, com destaque a Sailor’s Tale e Lady On the Road, mas por conta de Formentera Lady, que abre o álbum com algo que começa interessante mas lentamente perde sua energia, e Islands, que deveria, em teoria, ser o momento mais marcante de toda obra, mas acaba sendo o mais esquecível, com a exceção da hora em que o áudio da banda terminando de guardar os instrumentos finaliza a faixa. Por conta disso, me acabo frustado, já que possuo pouquíssimos motivos para ouvir o que ele tem a oferecer, mesmo sendo a obra que eu mais antecipava.
Islands traz um conceito diferente do típica da banda, mas, apesar de possuir algumas canções incríveis, acaba sendo decepcionante pela maior parte de sua duração.
Classificação 6/10
Músicas que Mais Gostei: Sailor’s Tale, Lady On the Road
Músicas que Menos Gostei: Islands, Formentera Lady
Semana que vem estarei fazendo Review do filme Bo Burnham’s Inside de 2021. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!
Oinc Oinc
-O Porco