NehruvianDOOM
NEHRUVIANDOOM é um projeto colaborativo entre os rappers MF DOOM e Bishop Nehru com um único álbum da dupla lançado em 2014, que foi distribuído pela Rex Records.
Daniel Dumile, mais conhecido como DOOM ou MF DOOM, é um rapper e produtor britânico-americano de hip hop alternativo. Ele é bastante conhecido pela seu flow, sua persona de “super-vilão” e sua máscara inspirada no personagem da Marvel, Dr. Destino. Todas essas características lhe colocaram em um dos maiores patamares do gênero, sendo considerado um dos melhores rappers dos anos 2000. Ele morreu em 31 de outubro de 2020. Markel Ni’Jee Scott, mais conhecido como Bishop Nehru, é um rapper e produtor americano. Seu estilo de produção é muito conhecido por utilizar misturar jazz com hip hop, tendo influências distintas, indo de 2Pac, Wu-Tang Clan e Kanye West, até Herbie Hancock, Red Hot Chilli Peppers e Michael Jackson.
Mais uma vez, estou lidando com o desconhecido. Assim, este foi um blog criado para reportar sobre o desconhecido, mas no caso de hoje, estou bem mais a fundo de onde costumo nadar. Se você leu minha resenha do álbum ARDIPITHECUS da WILLOW, primeiramente gostaria de me desculpar a quem realmente gosta do disco e ficou puto comigo por ter descido o cacete nele. Em seguida, tu deve lembrar o quanto gostei muito mais da produção e dos beats dele do que necessariamente o que as pessoas costumam gostar dele, no caso o rap. Mas esses tempos já passaram e agora estamos lidando com tempos novos e coisas novas que tenho ouvido desde então. Teve alguns que, não surpreendentemente, não gostei nem fodendo (coff coff Diretoria coff coff), mas tive algumas experiências fantásticas. A mistura de clássicos da música negra com seus estilos modernos de “Awaken My Love!” do Childish Gambino, os beats groovados do In A Space Outta Sound do Nightmares On Wax e claro, meu bebê mais recente, a paranoia psicodélica e perturbadora do The Money Store do Death Grips. Porém um artista que sempre ouvir falar, mesmo antes de entrar na minha missão de expandir o meu gosto é DOOM ou M.F. DOOM, que foi uma inspiração para vários músicos, sendo uma das lendas do hip hop underground e basicamente “o rapper que os rappers ouvem.” Então, quando mencionei a uma amiga o fato de eu não conhecer muito do estilo e ela me recomendou o NehruvianDOOM, uma colaboração do músico com o novato Bishop Nehru, fiquei bastante animado para ver do que ele traz à mesa.
DOOM, para início de conversa, não só possui uma carreira de rap, mas também um intensivo histórico de produção, sendo o seu maior foco aqui e ele facilmente trouxe as armas mais pesadas para o trabalho. Ao mesmo tempo que os beats possuem um groove quase que natural, eles também sempre colocam coisas que você não espera. A maneira que os samples são usadas também é fantástico, com muitas origens bastante inusitadas, cuja estranheza traz e defini a personalidade para boa parte das canções. Om, por exemplo, incorpora uma palestra de meditação, que eventualmente se torna a base da música. Toda a mixagem também é fantástica, com elementos que constantemente estão se movendo entre uma caixa e outra. A voz não está necessariamente mais “à frente da mixagem” como a maioria das canções mainstream, trazendo mais um sentimento de “ao vivo” ao disco todo, algo que sempre aprecio, tendo inclusive uma preferência maior a este estilo. No entanto boa parte das canções possuem um “epílogo” que sempre me deixava misto. Geralmente eram as melhores partes, porém elas sempre pareciam meio avulsas nas canções, sempre me dando a impressão de que já tinha trocado de música, e até mesmo colocando em questionamento porque não poderiam ser faixas isoladas, já que para chegar nelas eu teria que ouvir tudo novamente, algo que me fico com muita preguiça de fazer no final das contas.
Algo que me deixou bastante positivo também é o próprio DOOM como rapper. Quando me deparo com o hip hop mainstream, fico bastante incomodado com o o grande “espaço” que havia entre o beat e o próprio rap. Claro que os dois tem relação, mas tanto um com o outro geralmente possuíam pouco dinamismo entre si, trabalhando mais dentro da própria camada do que uma com a outra. Não aqui, não com DOOM. Muito parecido com o McRide do trio Death Grips, o flow do rapper é muitas vezes bastante percussivo, que junto do beat bastante elaborado e cheio de elementos, cria uma experiência musical bastante fantástica. Uma outra característica fenomenal é seu lirismo. Há uma complexidade nas letras que ele faz, com muitas piadas e jogos de palavra. Mas ele solta tudo com uma naturalidade, como se estivesse improvisando na hora algumas das frases mais complexas e engraçadas que você já ouviu, com temas bastante fora do comum e rimas que rimam com rimas que estão dentro de outras rimas. Certamente fico animado em querer descobrir mais sobre a carreira dele.
No entanto, o outro lado dessa moeda, Bishop Nehru, é o que joga todo esse projeto diretamente no esquecimento. Apesar de DOOM ser colocado como um colaborador, o que continua sendo independente, ele está mais assumindo um papel de fundo, cuidando da produção como mencionei, e tomando a liderança em poucas canções. Por conta disso, quem está em evidência é o Nehru, que sinceramente não aguenta o tranco, pois enquanto sua contraparte traz coisas completamente fora da caixa, ele brinca com os mesmos brinquedos de sempre do gênero. Não é de forma alguma ruim, mas também não é nada memorável. Enquanto as músicas de DOOM possuem temas bastante incomuns, como o anteriormente mencionado Om, Nehru faz canções relacionadas a um amor brega que contamina boa parte das faixas, como por exemplo, So Alone e Means the Most, com essa última utilizando elementos de R&B, que em mãos mais ousadas, não seria sonoramente igual às trinta outras músicas do gênero. Tudo isso leva a uma certa inconsistência no álbum inteiro, tanto sonoramente quanto em conteúdo e qualidade, o que acaba fazendo você se perguntar o que um artista como MF DOOM viu exatamente em Nehru.
NehruvianDOOM é um projeto com boas ideias e conceitos, mas acaba falhando drasticamente em sua execução, sendo bastante esquecível
Classificação: 4/10
Músicas que Mais Gostei: Om, Intro
Músicas que Menos Gostei: Means the Most, So Alone, Caskets
NehruvianDOOM está disponível em todas as plataformas de Streaming
A próxima resenha que estarei fazendo é sobre o filme Entre Facas e Segredos de 2019. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!
Oinc Oinc
-O Porco