Zuckerzeit — Cluster

Suíno Artístico
5 min readSep 10, 2021

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Zuckerzeit é o terceiro disco do grupo alemão de eletrônica Cluster e ele foi lançado em 1974, sendo distribuído pela Brain Records.

Cluster foi uma dupla eletrônica formada em 1971 por Hans-Joachim Roedelius e Dieter Moebius. Originalmente sendo parte do grupo experimental Kluster e estabelecidos em Berlim, a dupla se relocalizou para uma vila chamada Frost, onde montaram um estúdio musical e deram início ao projeto. Considerado uma das maiores lendas do subgênero chamado Krautrock, Cluster também é famoso por conta de suas colaborações com Conny Plank, Michael Rother e Brian Eno.

Faz umas sete resenhas que não menciono King Gizzard ou Osees, então tenho como obrigação começar falando deles. Quando se faz um mergulho na carreira de ambos os grupos, você se depara com um influência à princípio incomum que eles mencionam ali e aqui, sendo ela o Krautrock. Eis um gênero que, em todos os meus anos na indústria vital, eu conhecia muito pouco a respeito, e cujo conceito me fascinava. Músicos na Alemanha ocidental(tanto o porque de Kraut)tentando progredir a música como a conheciam, criavam canções que eram repetitivas e de longa duração, mas que continham um groove hipnotizador, com leve detalhes que iam mudam ao longo do tempo. Parece o tipo de coisa experimental que eu mostraria para os meus amigos por uns meses até eles cortarem vínculo comigo. Sem mencionar o fato de sua influência na cena da neopsicodelia, então era algo para ser estudado para ontem. Então, após algumas vasculhas por recomendações, e com nada além de uma mochila nas costas e a sede por conhecimento, parti em minha jornada. Já passei em alguns lugares interessantes, como Tago Mago do Can, Faust IV e Neu!, mas hoje iremos parar para ver as vistas de Zuckerzeit do Cluster.

Algo que não estava ciente antes de escutar o álbum era a questão dele ser completamente eletrônico. Antes do ravezeiros chegaram animados, devo lembrar que ele foi lançado em 1974, então o som se aproxima mais à bandas como Kraftwerk e Silver Apples do que algo mais moderno. Logo, todo o som tem uma estética muito mais próxima dos tios baixos e guitarras do que algo que se ouviria em uma canção do Calvin Harris, e com experimentação presente no álbum, há mais um sentimento de coexistência dos recém-descobertos instrumentos com seus parentes analógicos. Não dizer que o som é desprovido deles, já que os “samples” do álbum são gravações desses instrumentos que são alteradas e remoldadas para as músicas. Os tons, tanto dos sintetizadores quanto das máquinas de bateria, é algo também muito mais agradável ao ouvido do que em casos comuns da época como Emerson, Lake and Palmer e King Crimson. A estrutura de cada faixa também se aproxime mais de uma música pop do que um prog, fazendo com que naturalmente haja um conflito com o minimalismo do álbum, mas acaba também trazendo um sentimento de groove. Eu compararia ao efeito de dançar animado usando LSD, o qual não vou dizer que experienciei pois minha mãe lê meus textos.

Para gerar a percussão do álbum, Moebius (esquerda) e Roedes (direita) usaram uma das primeiras máquinas de bateria feitas.

Falando em groove, lembra de quando eu falei que a ideia do Krautrock é ser algo longo, hipnótico e repetitivo? Então, apesar de Zuckerzeit não ter muitas canções longas, com uma média de 3 a 4 minutos, ele certamente pode ser associado ao resto do movimento, talvez até demais. As canções são compostas de loops, que levemente mudam ao longo do tempo, e, por mais chato que isso pareça, gera um efeito muito interessante. Juntando ao fator do álbum todo ser instrumental, acontece que cada faixa cria um “espaço vazio” por assim dizer, que faz com que o ouvinte projete coisas nela. Sejam elas memórias, sentimentos ou até ambos, as canções acabam lhe envolvendo tanto emocionalmente e filosoficamente, mesmo que não seja ciente. E com a abstração dos sons eletrônicos, já que são instrumentos atípicos, a obra te leva para uma viagem interior de si mesmo. Por mais esquisito que pareça, eu realmente senti isso tudo, e o LSD mencionado anteriormente não possui relação a isso. Todos esses detalhes também me remetem a um sentimento de ASMR (não intencionais claro) já que a mixagem do álbum costuma ser bastante fora do comum, e constantemente usa elementos sonoros pouco convencionais, lembrando até mesmo da famigerada “cosquinha no cérebro” que mencionei na resenha do Thrill of the Arts.

Mas esse “vazio” da música acaba saindo pela culatra, dependendo da situação. Ouvir esse disco novamente certamente foi um pouco mais cansativo do que da primeira vez. Seja por já saber o que esperar, estar ouvindo ele isoladamente ou algum outro fator externo, as canções foram mais enjoativas, mas não por muito. Acredito isso acontecer por conta das músicas possuírem um tom melódico bem similar que, por mais que me agrade, fica repetitivo demais ao longo do tempo. Talvez ouvindo o álbum fazendo outra coisa (como jogar, ler, etc) pode retardar esse efeito, mas é algo muito subjetivo para se definir com certeza (mas arte em geral é desse jeito, e mesmo assim aqui estamos). Há também a questão da energia da obra. Eu não costumo dizer “nossa lado B é muito ruim”, mas não devo ignorar que isso de fato acontece de vez em quando, seja por uma questão comercial ou apenas má execução. Infelizmente, isso é parcialmente verdade aqui. O LP, em geral, costuma ser bastante animado, mas nas poucas vezes que ele decide diminuir o ritmo, a mágica dele acaba indo embora, fazendo com que o vazio introspectivo e os aspectos experimentais antes elogiados, se tornem bastante entediante. A finalização de Zuckerzeit também não é exatamente efetiva já que ele acaba só… acabando. Sem um grand finale ou algo do gênero. Não sei se este é um caso como o de K.G., do King Gizzard and the Lizard Wizard, que se junta com outro álbum lançado posteriormente (este sendo L.W.), mas essa finalização repentina acaba fazendo um desserviço ao resto da obra que possui uma energia e personalidade tão própria.

Zuckerzeit é um álbum surpreendente e com uma identidade própria, que serve como introdução tanto para o subgênero do Krautrock quanto da eletrônica, apesar de ter alguns defeitos que o impedem de atingir o seu maior potencial.

Classificação: 8/10

Músicas que Mais Gostei: Rosa, Caramel, Hollywood

Músicas que Menos Gostei: Marzipan, Fotschi

Semana que vem estarei fazendo uma resenha do filme De Volta para o Futuro parte III de 1990. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!

Oinc Oinc

-O Porco

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Written by Suíno Artístico

Olá estranho. Neste canto infortúnio da internet, há um porco fazendo resenhas de obras artísticas. Se isso não te estranha, bem-vindo e boa sorte

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