Schlagenheim — black midi

Suíno Artístico
5 min readSep 24, 2021

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Schlagenheim é o álbum de estreia da banda britânica de rock(isso será importante mais tarde) black midi. O LP foi lançado em 2019, e distribuído pela Rough Trade Records.

Criada em Londres ao redor de 2017, black midi é formada por Georgie Greep(vocais e guitarra), Matt Kwasniewski-Kelvin(vocais e guitarra), Cameron Picton(vocais, baixo e synths) e Morgan Simpson(bateria). O nome do grupo é derivado de um gênero de musica eletrônica, cuja principal característica é preencher uma trilha MIDI até ficar completamente preta. Apesar disso, a banda, musicalmente falando, possui mínima, se alguma, conexão entre este fato. O som do grupo já foi descrito como rock experimental, math rock, prog, noise rock e post-punk.

Por mais que meu gosto tende a cair mais no experimental, tanto meu ouvido quanto meu conhecimento possuem alguns limites. Gêneros como math rock e noise rock são bastante fora do meu círculo, já que não sou muito exposto a eles. Porém tenho algumas experiências com o segundo quando me mergulhei na carreira do Osees. Ao redor de 2004, quando a banda ainda se chamava OCS, ela lançou o álbum 2, e ele foi uma experiência única. Para alguém que tem bastante interesse em estruturas musicais, ouvir algo que parecia uma música “normal”, mas que não parecia ser feita por humanos, dando um sentimento de desconforto, paranoia, angústia e quase insanidade. Lógico que eu amei. Era algo completamente alien para mim. Me passou uma sensação similar a outsider music, pessoas criando canções, porém com o fator de que elas não possuem conhecimento musical ou possuem algum outro fator que deixa tudo muito atípico. Alguns dos melhores exemplos desse estilo seria Philosophy of the World da The Shags e Trout Mask Replica do Captain Beefheart and His Magic Band, ambos sendo escritos por pessoas que possuíam quase que nenhum conhecimento musical. Sem contar que é difícil de estar intencionalmente criando uma obra que seja “errada” sem parecer pretensioso ou como alguém que só tá querendo se exibir. Então, sem saber no que eu estava me metendo, parti para Schlagenheim.

Acho que a melhor coisa para definir o trabalho de black midi nesse álbum seria desconfortante. Assim, como falei antes, tudo está “errado” na obra. Caótica não chega perto de definir a instrumentalização de Schlagenheim, com um dos vocais mais estranhos que já ouvi, e letras não parecem ter sentido algum(se você conseguir discernir o que estão falando). E durante muitos momentos, é uma combinação excelente. Mas há uma certa intencionalidade nesse caos. Tudo parece ter sido escolhido para ser estranho. Basta olhar tanto a capa quanto o nome do álbum para ver que você está entrando em uma experiência completamente pouco convencional. Mas a performance aqui claramente mostra que os meninos são estudados, pois há uma aplicação muito específica de conceitos excêntricos que vêm da teoria musical. Há alguns dos grooves mais esotéricos, e ao mesmo tempo hipnotizantes que ouvi, sempre utilizando conceitos como atonalidade, policompasso entre outras coisas encontradas no universo acadêmico. Nos momentos que fiquei completamente imerso dentro da obra, até era estranho tentar interagir com o mundo lá fora. Este, provavelmente, é um dos sons mais únicos que ouço faz um tempo. Claro que dá para ouvir a influência de free form jazz, Talking Heads entre outros, mas a maneira de como tudo se encaixa aqui acaba criando algo que até mesmo fiquei incerto como definir de início.

Além de ser sonoricamente distinto, black midi também usa de publicidades bastante ortodóxicas

Como mencionado, a estrutura do álbum é bem aleatória, se for de alguma forma existente. Ela é possível graças ao fato que o grupo não gravou de maneira muito planejada, levando apenas quatro dias com takes mínimos. Talvez as transições entre cada parte das canções sejam, mas o resto é bastante improvisado, e leva este elemento musical ao seu ápice absurdista lógico. Há constantes momentos de calmaria, em que a faixa está tomando um caminho um pouco mais típico, mas ela acaba puxando o seu tapete e te dando um soco na cara, com pouco tempo para você reagir. Mesmo quando isso aparece, sempre tem algo desconfortável ali ou aqui na canção, com o intuito de te deixar atento. Há também alguns efeitos emocionais interessante que Schlagenheim colocou em mim. Ao momento que fui acostumando com o som, comecei a “associar” alguns sentimentos dentro do caos. Claro que ódio e confusão dominam a maioria das vezes, mas em alguns raros casos, como em Western e Of Schlagenheim, o álbum conseguiu até tocar meu coração frio e angustiado, levando até a uma certa introspectiva no meio do caos desenfreado. Porém, o seu ouvido acaba acostumando com a estranheza, e o que antes era imprevisível, se torna apenas aleatório e sem propósito. Chegou a um ponto que nada nem me atingia mais, até mesmo me deixando entediado.

Inclusive, há aqui algo que também comentei em ARDIPITHECUS e Blackwater Park. Há uns ganchos muito bons nas canções, mas que raramente conseguiam serem desenvolvidos em uma música completa. Aqui no entanto, se deve muito ao que mencionei antes sobre o aspecto do improviso. Havia momentos que puxavam completamente minha atenção, assim como um cachorro ouvindo comida ser servida, mas duravam muito pouco para segurar uma canção inteira ou se repetiam o suficiente para me deixar enjoado da faixa. Isso não acontece com frequência o suficiente para estragar o álbum completamente mas é certamente decepcionante. Acredito que o viés acadêmico dos músicos, que tenho 80% de certeza de terem, não dão o mesmo sentimento que tive com o OCS 2. Nele, John Dwyer e companhia ainda estavam aprendendo a tocar e como compor canções, dando um sentimento quase infantil e amador às músicas. black midi no entanto, tenta para o outro lado, com uma técnica tão fodida de boa que eles estão intencionalmente fazendo “errado”, mas, ao invés de dar aquele sentimento alien como mencionei na introdução, apenas sinto um monte de moleque branco se exibindo fazendo música esquisita.

Apesar de black midi ter um som muito único dentro da cena da música atual, Schlagenheim acaba criando tendo alguns momentos que atira no próprio pé e tira um pouco do seu potencial.

Classificação: 6/10

Músicas que Menos gostei: 953, Western, Of Schlagheim, Speedway

Músicas que Menos Gostei: Near DT MI, Reggae, Ducter

Semana que vem estarei fazendo uma resenha do filme O Fantástico Sr. Raposo de 2009. Tem alguma recomendação de álbum ou filme? Solta aí nos comentários!

Oinc Oinc

-O Porco

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Written by Suíno Artístico

Olá estranho. Neste canto infortúnio da internet, há um porco fazendo resenhas de obras artísticas. Se isso não te estranha, bem-vindo e boa sorte

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